13 de agosto de 2008

Sobre amor, ódio e indiferença


Tratamos mal quem nos trata mal. Desprezo é para inimigos e invejosos. E ninguém que ama de verdade consegue ter conforto quando isso vem do outro lado. O contrário do bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é ódio. Faça uma enquete entre adultos e descubra que a resposta correta é indiferença. Isso mesmo. o contrário de amor é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a te odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. A indiferença, por sua vez, não aceita declarações ou reclamações. Seu nome simplesmente não consta mais no cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas no rosto e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, precisamos dele nem que seja para dedicar-lhe todo o nosso rancor, ira, a nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouquíssimo humor para aturá-lo. O ódio se tivesse uma cor, seria vermelho, como o amor.

Já para sermos indiferentes a alguém precisamos de quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bungee jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada. A indiferença é um exílio no deserto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mmmm... muito bueno. Difícil é a gente sentir indiferença no primeiro momento.
Mas com fé, tudo acaba se ajeitando. E é uma glória quando alguém fala o nome do cidadão e por um momento você não sabe quem é. Aí cai a ficha, mas tudo bem. Você já esqueceu, hehe.

Suerte, querida!